31/05/2006

a luz do olhar

Na condição de ter uma luz sua
e de salgar a fonte do voar
nem o sol lhe despe a maresia
nem o mar lhe rouba o brilho
do olhar

30/05/2006

o homem de papel

Acorda de manhã,
o homem de papel,
de papel branco,
em branco respirar

sonha em caminhar,
o homem de papel,
de papel branco,
vincado de sinais

mas como não tem cor,
o homem de papel,
de papel branco,
marca de branco o ar

18/05/2006

campo pequeno

Os golpes das espadas
farpeadas
nas espáduas do boi
inocente.
O aço crú cravado
na carne, a ferida
injusta, fresca,
rasgada, o sofrimento
vão.
O ardor da carne,
nas chagas todas
inocentes...
O sangue. O sangue
quente, o sangue
puro, o sagrado
sangue
imolado à multidão
sôfrega.
A arte, claro,
os artistas
da morte

10/05/2006

da vontade da luz

São de festa os seus gestos corpo
adentro e há cantigas que só soam
quando a dois. No despontar do Verão,
brincam palavras com palavras enleadas
na vontade da luz em se florir

03/05/2006

recomeço

Começar de novo não
é difícil, difícil é
recomeçar

02/05/2006

força

O peso do mundo nos ombros,
aceita-o agora, só por um momento.
Por um instante sente-te sozinho,
deixa que doa, lamenta
teres caído. E agora basta:
deixa o suspiro a meio, engole
o cuspo seco. Levanta-te e anda,
perdoa-te e volta ao caminho.
Vê o que vales: não é fraco quem
fraqueja mas quem
fica no chão.