29/06/2007

depois

Depois
do cheiro doce dos cavalos
e depois
do sol beijar a sombra
das nogueiras
e depois
dos corpos se encontrarem
junto ao verão
depois disso não faz falta
mais nenhum lugar na mesa
nem nos olhos
dos pardais

minimal

Empurrado pelo vento
um grão de areia escorregou
pedra abaixo até à base
anichando-se aí, perfeitamente,
entre uma flor de cardo e
uma gota de água:
na luz fria do inverno
o universo fremiu
e aconchegou-se

26/06/2007

pouca coisa

Sob a pele dos dias
sopesados do pensar
alguns entes se sentavam
em tua mesa

Alguns deles se traziam
outros só se acolhiam mas
para quem estava havia
sempre pão e vinho, a
fruta baça do campo e
algum brilho de olhos
entendidos

Não era muito, mas
por pouco se gostavam e
bebiam dos seus copos aos
presentes

Pouca coisa que
aquecesse assim a noite
em tua casa, nada como
o porquê do mal
do mundo ou que sexo
tem um anjo

19/06/2007

pós-humano

Transformado em dia
pelo verbo
fatigados os olhos, mas abertos
para o ser,
pensou-se quedo, quis-se
nú, fez-se
distante...
A luz
cresceu-lhe, esvaíu-se-lhe
a forma.
Cada vez mais astral
já quase não recorda
que foi homem