16/01/2014

ser-se

Um velho voltou hoje ao mar profundo,
o corpo torto mas a fronte de osso
agudo. Era o que era,  pouco o que
pedia: um peixe de sal, uma côdea de
pão, uma enxerga, uma telha, ver a lua
na noite, ver o dia nascer e dar a mão
ao mar e dar a mão ao mar até morrer

boa morte

A chama esvai-se em brasa na lareira
a luz fraqueja e deixa de luzir
descai a cara no encosto da cadeira
podíamos morrer mas basta-nos dormir

cardo em flor

Num ponto do espaço
centrado no nada, a
milhões de anos luz de
coisa nenhuma, pleno
de si e de silêncio
brilha um belo
cardo em flor