06/05/2010

primavera

Chegaram as andorinhas
negras mais negras do que
negras eram antes

à sombra

Côdea de pão em azeite
na calidez de uma sombra
suada no Alentejo

gaivotas

Seus olhos viram o mar
como o mar era de dia
seus olhos eram gaivotas

24/03/2010

não era bem

Não era bem a seda do falar, como
não era bem o seu poisar de olhos
circunstantes. Seria, porventura
mais o gesto, o voo dos dedos, a
forma como guardava o espaço
na cova leve das mãos. Doutra
maneira, como retinha a luz em
seu redor, ou seja ainda, o seu
modo tão seu de existir. Num
lugar morno imune ao tempo havia
risos, festas e puríssimas
palavras

22/02/2010

da luz dos vaga-lumes

Contar por versos o que eram
quase Verão, as noites de
Azedia. A Casa perto e
longe, a ribeira discreta
no fundo dos caniços. Era
altura da luz dos vaga-lumes
espelhada no encanto dos
olhos das crianças. Os cavalos
há muito que sabiam das
silentes sinfonias luminosas, mas
um poldro galopava um frenesi
à flor da erva e sorrisos
clareados de inocência acenavam
às estrelas um sinal de
entendimento

por ser tão dia

Por ser manhã, talvez
talvez por já ser dia
abria o coração à breve
luz de Abril. No regaço
de si mesmo prometia
um olhar claro ao que
era no porvir. Talvez
por ser manhã, talvez
por ser tão dia