08/06/2005

outro corpo

Já sentes outro corpo que o de jovem
ardendo ainda, mas em fogo lento.
No ardor do corpo agora
sabes pausar o coração e
um beijo teu já não tem só um sentido,
tem todos os sentidos sentados no tocar.
Agora sabes rir e ris na boca
mas ris também em todo o outro corpo,
ris nos poros, nas espáduas, nas palavras
ris devagar, isso te deu o tempo
ou foste tu que lho roubaste, já não sei

ponto de chegada

Canoa nas ondas
virada à bolina
trigo manso, maduro
dobrado no vento.
Estás como sempre
onde podes estar
mas aqui é igual
ao que sempre quiseste
aqui finda um caminho:
Chegaste.
Por muito que teimes
em ti e no sol
por muito que teimes
no sol e no mundo
nem tu, nem o sol
e menos o mundo
podem ser algo mais
do que o frémito lento
o ser devagar,
a festa tranquila,
o cúmplice abraço
entre ti e o dia

pequenos pormenores

Uma das claras luminosidades
que te aclare a mão
ou se transforme em cor.
Precisas disso: um mar manso
de verão, uma fogueira de estrelas,
alguns sons casuais, quase de música.
Esses pequenos pormenores do ar
que te folgam dos caminhos tortos