04/12/2007

30/10/2007

"sinais de poesia"


Glória de Sousa e Licinia Quitério vão dizer Vasco Pontes na Casa Fernando Pessoa, no dia 15 de Novembro, às 19H00. O poeta, naturalmente, estará presente, aguardando quantos outros quiserem e puderem ir. Até lá!

26/10/2007

nada mais

Uma palavra presa aos dentes
impossível de dizer. Uns lábios
meio abertos cheios de sede e
de silêncio. No fundo do
estômago a surda implosão
de um soluço. E nada mais
E nada mais

25/09/2007

marcas de água

Pedra sobre pedra, sobre o sal
do corpo. Colunas, muros
castelos, testemunhos
marcas de água

28/08/2007

raízes

Alimenta-se de estrelas porque dói
a quem provou a luz ficar no chão
Mas a terra reclama as raízes do ser
e, esperando florir antes que acabe o dia
lança o coração ao pó, mal amanhece

29/06/2007

depois

Depois
do cheiro doce dos cavalos
e depois
do sol beijar a sombra
das nogueiras
e depois
dos corpos se encontrarem
junto ao verão
depois disso não faz falta
mais nenhum lugar na mesa
nem nos olhos
dos pardais

minimal

Empurrado pelo vento
um grão de areia escorregou
pedra abaixo até à base
anichando-se aí, perfeitamente,
entre uma flor de cardo e
uma gota de água:
na luz fria do inverno
o universo fremiu
e aconchegou-se

26/06/2007

pouca coisa

Sob a pele dos dias
sopesados do pensar
alguns entes se sentavam
em tua mesa

Alguns deles se traziam
outros só se acolhiam mas
para quem estava havia
sempre pão e vinho, a
fruta baça do campo e
algum brilho de olhos
entendidos

Não era muito, mas
por pouco se gostavam e
bebiam dos seus copos aos
presentes

Pouca coisa que
aquecesse assim a noite
em tua casa, nada como
o porquê do mal
do mundo ou que sexo
tem um anjo

19/06/2007

pós-humano

Transformado em dia
pelo verbo
fatigados os olhos, mas abertos
para o ser,
pensou-se quedo, quis-se
nú, fez-se
distante...
A luz
cresceu-lhe, esvaíu-se-lhe
a forma.
Cada vez mais astral
já quase não recorda
que foi homem

24/05/2007

convite



O livro "dovoar", editado pela Pé de Página, será apresentado no dia 9 de Junho, Sábado, pelas 17 horas, no belíssimo Museu da Patriarcal-Reservatório de Água, situado no Jardim do Príncipe Real, em Lisboa.
Rui Grácio, responsável editorial da Pé de Página, fará a sua apresentação ao público. Depois serão (muito bem) lidos poemas do autor por Glória de Sousa e Licínia Quitério.
Também acontecerão coisas que nem o poeta sabe, porque elas fazem segredo.
Os amantes de poesia estão, todos, convidados.

21/05/2007

águas lusas

Também tens
nos rins o mesmo
sabor acre da
terra que bebes na
água branca das
fontes do teu país

E também tens
nos ossos e no
sangue as mesmas
marcas do correr
dos rios entre as
margens de um
fado que descrê
de ser cantado

E tens ainda
atado ao ventre o
mesmo fim, o mesmo
mar da costa
inconquistável da
vontade de cumprir na
cara dos teus filhos, as
lágrimas da paz de
acontecer um povo

03/05/2007

a falha do destino

Por vezes a razão das
sombras é tão concreta
que escurece até o
querer dos próprios
passos

Por vezes não se pode
ser mais que um ponto
no vazio, um respirar
contra vontade o
gume de uma dor
que pode ser

Por vezes, todos os
caminhos se transformam
em escarpas, uns, os outros
em abismos e a falha
traiçoeira do destino
não deixa hoje acreditar
nas armas que amanhã
empunharemos

20/04/2007

as mãos de cada dia

Os olhos de ver a luz
querem-se largos
e limpos.

Grandes e poderosas
devem ser as asas de
ganhar o céu.

As mãos são mãos de
tanta coisa que não
se podem ter de uma
maneira; são precisas
outras mãos em
cada dia

celebração dos gestos

O que celebras hoje de
importante? Sim o que
celebras hoje, para além
da medida em que não
cabe a metade da luz
do horizonte ?

O que celebras? Porquê
o gesto em festa, o tropel
do sangue pelas veias, o
grito dos nervos na ânsia
da explosão?

O que celebras? Difícil de
dizer, sabemos. Talvez
que só a luz enquanto
te ilumina, talvez
a simples sintonia do
corpo com o gesto,
talvez o gesto, em si,
de celebrar

08/02/2007

partidas

Os que partem aos que ainda vão partir
deixam velhos trapos estendidos,
na deserta mesa das conversas.
O ar escorrendo no silêncio
das paredes tão pouco se demora