22/06/2006

saudades da tristeza

Agora tudo é triste no teu mundo
e não há mundo que te mude o sentimento;
nada vês além das lágrimas, nem o ombro
onde choras, nem as mãos beijando-te
os cabelos, nem os dedos pacientes
sorrindo nos teus olhos magoados.

Há-de ser noutro dia que a saudade
de estar triste vai brilhar na tua face

19/06/2006

à sombra dos cavalos

Chegam notícias tristes da cidade,
tristes como soem desejar-se.
Teus dedos estancam, perdem viço
os movimentos, mas falta o tempo
para entristecer: de volta à brincadeira
renascem gargalhadas na garganta e
deixas-te outra vez levar, os braços
largos, um grande peito aberto,
tu e as ervas, à sombra do cavalos
um filho no pescoço, outro no colo

coração alado

Abrir as asas na curva da montanha,
ver do ar a pouca dimensão do homem,
mas ver que o homem voa quando quer.
Olhar ao lado outros seres voando
em rotas paralelas, divergentes, ou
contrárias: sorrir um toque de asa
a um irmão chegado e dar o corpo
ao vento, fremir no voo, sentir
no peito o coração alado, o
prenúncio etéreo de um começo astral

02/06/2006

o lugar dos signos

Há um lugar escondido na cidade
onde alguns seres revelam os seus signos;
vêm na alva, procuram toda a gente,
entram no dia, dizem os seus fados,
hora por hora esperam-se na tarde,
insistem no crepúsculo em chamar,
e vão-se embora à noite,
anoitecidos