08/11/2006

adágio

I
No centro do Outono o
nevoeiro pesa no negro do
silêncio. A terra dorme o
sono das madres
aconchegando ao
manto do seu ventre o
fundo mudo da encosta

II
Buscando erguer-se nas
árvores presas ao húmido
da noite, o ar deitado
na terra restolha rente
ao chão. Respira aí
um pouco e sobe devagar os
troncos escuros, aspirando
já aos ramos altos
sobre si

III
Um homem nú estremece
no gume dos sentidos,
a música do mundo
ganhando a curva
das costelas. Sem
perguntas a fronte
inverte a luz do olhar e
mansamente espera
a madrugada

13 comments:

Maria P. said...

Supremo!!

Nem digo mais.

beijo meu poeta:)

Licínia Quitério said...

Valeu a pena esperar... pela madrugada.
Um Poeta no centro do Outono.
Belíssimo. Comovente.

Muitos beijos da Irmã Outonal.

Vasco Pontes said...

Olá musika,
...duas vezes aqui? quer dizer que gostaste. Calculo que este poema te diga algo mais tendo em conta a sua dimensão musical
beijos

Vasco Pontes said...

olá querida maria p.,
um beijo do poeta nas tuas mãos fiéis
:)

Vasco Pontes said...

olá licínia,
... tão bem que me percebes. porém quando o poeta diz de si espera sempre ressoar nos outros.Nesse sentido ele é(quando o consegue) um espelho onde o leitor se revê.
digo bem, minha irmã de versos?
Beijos

Ana Prado said...

Ah...mas este requer muito tempo, não estou segura de ter entrado no texto. Ensina-me a lê-lo, para o poder sentir.

Um abraço

Vasco Pontes said...

Olá Ana Prado, ... é Outono, é de noite, está escuro.Até o nevoeiro adensa a escuridão.Nada bule. Neste momento impera a escuridão. A escuridão aqui, porém, não é má: é um "pré-estado" das coisas. É o zero, a não consciência . Num segundo momento, o vento toma consciência de si e procura o seu caminho, buscando o alto das árvores, ou seja, procura o céu que é onde pertence. A natureza acorda. Finalmente, um homem deixa-se invadir pela música do vento, pela música do mundo que acorda e lhe aguça os sentidos. Nesse momento, no frio e no escuro, ele é como uma extensão desse mundo e com ele e como ele se prepara para mais um dia. ... isto quanto ao significado. formalmente quiz obrigar a uma leitura lenta, enrolar o leitor na palavras, levá-lo devagarinho da escuridão à luz, sem cair na tentação de ribombar o final, mas deixando aí uma tensão por resolver . Não sei se dá para ver, mas adoreeeeei a tua pergunta. Isto para mim é que é falar de poesia. Beijos, minha amiga

Ana Prado said...

Agora estou totalmente convencida. Baralhava-me o segundo momento, apesar de me aperceber da anástrofe, de a conseguir desconstruir, a verdade é que não conseguia estabelecer uma ligação com a terceira estrofe.

Agora sim, posso apropriar-me, na totalidade do chavão mais utilizado na blogofesfera: "Gostei muito!" Eheheheeheh:)

Beijos

aquilária said...

o homem renovado, o homem em harmonia com a natureza que (o) integra.a vida, marcando o seu ritmo.

um abraço, meu amigo

MySelf said...

Os teus poemas 'tocam' a sensibilidade... quem me derá saber brincar assim com as palavras!

Vasco Pontes said...

Olá myself,
Obrigado. O poeta gosta de te ver por aqui. E de tocar a tua sensibilidade. Vale o que vale, mas, para podermos "brincar" com as palavras, é só precisa sensibilidade, muita vontade de o fazer e... prática, prática e prática.

Maria P. said...

Grata pelas fiéis visitas à Casa de Maio.

Beijinho:)

Vasco Pontes said...

...todos os dias, minha amiga, todos os dias.
Beijos