A tua mente é jovem, sim, a tua mente é jovem
Ainda cavalga o sol, ainda freme
Com pouco mais que a feromónica
sugestão de um cheiro mar;
Mas pensas muito também só por pensar
e deixas-te ficar de noite, alerta
ao leve passo das sombras,
que até há pouco nem o teu nome sabiam,
e tão bem sabem agora como
te chamar
19/07/2005
08/06/2005
outro corpo
Já sentes outro corpo que o de jovem
ardendo ainda, mas em fogo lento.
No ardor do corpo agora
sabes pausar o coração e
um beijo teu já não tem só um sentido,
tem todos os sentidos sentados no tocar.
Agora sabes rir e ris na boca
mas ris também em todo o outro corpo,
ris nos poros, nas espáduas, nas palavras
ris devagar, isso te deu o tempo
ou foste tu que lho roubaste, já não sei
ardendo ainda, mas em fogo lento.
No ardor do corpo agora
sabes pausar o coração e
um beijo teu já não tem só um sentido,
tem todos os sentidos sentados no tocar.
Agora sabes rir e ris na boca
mas ris também em todo o outro corpo,
ris nos poros, nas espáduas, nas palavras
ris devagar, isso te deu o tempo
ou foste tu que lho roubaste, já não sei
ponto de chegada
Canoa nas ondas
virada à bolina
trigo manso, maduro
dobrado no vento.
Estás como sempre
onde podes estar
mas aqui é igual
ao que sempre quiseste
aqui finda um caminho:
Chegaste.
Por muito que teimes
em ti e no sol
por muito que teimes
no sol e no mundo
nem tu, nem o sol
e menos o mundo
podem ser algo mais
do que o frémito lento
o ser devagar,
a festa tranquila,
o cúmplice abraço
entre ti e o dia
virada à bolina
trigo manso, maduro
dobrado no vento.
Estás como sempre
onde podes estar
mas aqui é igual
ao que sempre quiseste
aqui finda um caminho:
Chegaste.
Por muito que teimes
em ti e no sol
por muito que teimes
no sol e no mundo
nem tu, nem o sol
e menos o mundo
podem ser algo mais
do que o frémito lento
o ser devagar,
a festa tranquila,
o cúmplice abraço
entre ti e o dia
pequenos pormenores
Uma das claras luminosidades
que te aclare a mão
ou se transforme em cor.
Precisas disso: um mar manso
de verão, uma fogueira de estrelas,
alguns sons casuais, quase de música.
Esses pequenos pormenores do ar
que te folgam dos caminhos tortos
que te aclare a mão
ou se transforme em cor.
Precisas disso: um mar manso
de verão, uma fogueira de estrelas,
alguns sons casuais, quase de música.
Esses pequenos pormenores do ar
que te folgam dos caminhos tortos
17/04/2005
cansados da noite
Cansados da noite, os teus olhos ainda
estranham quase toda a luz do dia; por
pouco tempo, porém, agora mesmo,
um grande sol cor de rosa sobe num
céu claro de arco íris e
luz em nuvens amarelas embaladas
por um vento verde pálido. É tanta cor,
que as pupilas já não sabem como escurecer
e o corpo freme e brilha no compasso
de cada inspiração. É claro
que não podes levar contigo o dia todo, mas
tomas alguns fios no teu bolso e
lesto tornas à estrada, retemperado
estranham quase toda a luz do dia; por
pouco tempo, porém, agora mesmo,
um grande sol cor de rosa sobe num
céu claro de arco íris e
luz em nuvens amarelas embaladas
por um vento verde pálido. É tanta cor,
que as pupilas já não sabem como escurecer
e o corpo freme e brilha no compasso
de cada inspiração. É claro
que não podes levar contigo o dia todo, mas
tomas alguns fios no teu bolso e
lesto tornas à estrada, retemperado
14/04/2005
tanto que não querias
Tanto que não querias entardecer,
tanto que ficavas preso ao dia,
à luz, ao seu olhar;
Vais-te embora agora mesmo,
não era essa a tua casa e
não podias, não podias ficar;
mas os teus olhos vão brancos de sal
e as tuas mãos sozinhas
espasmam-se no ar, pedem ainda
um suspiro nos poros, um
respirar de pássaro nas
breves polpas dos dedos
tanto que ficavas preso ao dia,
à luz, ao seu olhar;
Vais-te embora agora mesmo,
não era essa a tua casa e
não podias, não podias ficar;
mas os teus olhos vão brancos de sal
e as tuas mãos sozinhas
espasmam-se no ar, pedem ainda
um suspiro nos poros, um
respirar de pássaro nas
breves polpas dos dedos
04/04/2005
duas vezes o sol
Duas vezes o sol; uma
por o ser, outra
por aquela cor quase de sangue;
duas vezes olhá-lo, bebê-lo,
duas vezes
por o ser, outra
por aquela cor quase de sangue;
duas vezes olhá-lo, bebê-lo,
duas vezes
sucedâneo
Se temos que voar cegos
na escuridão imensa do sol nos olhos
seja então com asas de cigarra
e que o vento cheire a oliveira
na escuridão imensa do sol nos olhos
seja então com asas de cigarra
e que o vento cheire a oliveira
segredos de ofício
Contra o que se pensa as palavras boas
não são muitas e as que há de tão
usadas ficam gastas e sem brilho.
Quem as quiser com as cintilações antigas
tem que esculpir as sílabas em línguas
do mais puro cristal, fundi-las em cores
claras muito límpidas, retemperá-las
em nascentes de água pura.
Trabalho delicado, esse, só sabido
por poucos dos mais hábeis artesãos
não são muitas e as que há de tão
usadas ficam gastas e sem brilho.
Quem as quiser com as cintilações antigas
tem que esculpir as sílabas em línguas
do mais puro cristal, fundi-las em cores
claras muito límpidas, retemperá-las
em nascentes de água pura.
Trabalho delicado, esse, só sabido
por poucos dos mais hábeis artesãos
velhos amigos
Fatigadas pelo tempo, regressaram as águas
e houve muitos beijos e gritos infantis
quando as nossas saudades, seguradas
explodiram em luzes e cantares e danças
e houve muitos beijos e gritos infantis
quando as nossas saudades, seguradas
explodiram em luzes e cantares e danças
02/04/2005
alimentos
Das flores as pétalas mais frescas
são para comer - e só depois as nuvens:
Amor e poesia não são actos
simultâneos
são para comer - e só depois as nuvens:
Amor e poesia não são actos
simultâneos
da verdade
A minha verdade é uma laranja verde
da cor dos teus olhos e da tua idade
tem a forma dos astros, cheira como as ervas
e sabe demais ao teu sabor amargo.
da cor dos teus olhos e da tua idade
tem a forma dos astros, cheira como as ervas
e sabe demais ao teu sabor amargo.
dos sonhos
Era tempo de estio, sonharam com aves
e foram aos montes procurar por asas.
Não é sabido se também voaram
ou se as águias os colheram nos ninhos
para alimento dos recém nascidos.
Porém, nunca mais voltaram.
e foram aos montes procurar por asas.
Não é sabido se também voaram
ou se as águias os colheram nos ninhos
para alimento dos recém nascidos.
Porém, nunca mais voltaram.
nocturno
O rio,
chapinha em ondas
penúmbricas
e mornas
A lua,
ilumina a fosco
contornos
indistintos
Há uma gaivota nocturna,
passando,
num voo lento
de sono
Algures,
uma guitarra antiga,
traz a saudade,
no vento
melancólico.
chapinha em ondas
penúmbricas
e mornas
A lua,
ilumina a fosco
contornos
indistintos
Há uma gaivota nocturna,
passando,
num voo lento
de sono
Algures,
uma guitarra antiga,
traz a saudade,
no vento
melancólico.
28/03/2005
ser gente
Por muito que anseies
pelo porto de abrigo,
sabes que é ao largo do mar,
no centro da tempestade,
que atinges o teu tamanho.
Para além do medo do que é incerto
e do medo de não seres capaz,
estão as vagas vencidas pelo teimar,
está a rota por onde cresces,
em direcção ao norte,
a caminho do sol,
ou de ser gente.
pelo porto de abrigo,
sabes que é ao largo do mar,
no centro da tempestade,
que atinges o teu tamanho.
Para além do medo do que é incerto
e do medo de não seres capaz,
estão as vagas vencidas pelo teimar,
está a rota por onde cresces,
em direcção ao norte,
a caminho do sol,
ou de ser gente.
27/03/2005
festa
Mão macia
longos dedos
carícia líquida
de ave. Arremedos
de potro
na teta esguia
recta oblíqua
de segredos
um beijo. Outro
longos dedos
carícia líquida
de ave. Arremedos
de potro
na teta esguia
recta oblíqua
de segredos
um beijo. Outro
beber do charco
Não queres beber senão água limpa,
não a há onde tu estás: embora.
Bebe mesmo do charco,
agonia-te, sim,mas mata a sede: tu
não podes morrer enquanto for de noite, enquanto
o mundo não for mais que filhos teus.
não a há onde tu estás: embora.
Bebe mesmo do charco,
agonia-te, sim,mas mata a sede: tu
não podes morrer enquanto for de noite, enquanto
o mundo não for mais que filhos teus.
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