21/03/2006

vida simples

Vendo bem, é pequenina a vida do poeta:
Pouco mais que o respirar dos seus poemas,
um ou outro beijo pressentido
e a luz que, quando a diz, muda de tom

20/03/2006

o caminhante

No meio das searas hesitava,
nos passos que fariam seu caminho.
Cerrava a fronte às vezes. Tacteava,
sondava a terra perguntando o norte.
Mas cada movimento que fazia
levantava no ar uma canção
e um horizonte novo em cada passo,
marcava nas espigas os seus olhos

17/03/2006

o pai

Todos os filhos em redor da
minha casa, sem condições
tomam meu rosto em suas mãos
pois tanto amo aqueles
para quem tudo é fácil,
como aqueles para quem
o fácil é difícil.
A todos amo, todos guardo
junto a mim, mas ponho mais
a minha mão sobre os que podem
menos e o meu coração alegra-se
com as suas pequenas vitórias

o legado

Chegou o tempo de deixar na pedra
alguns sinais de ti, mas não te iludas
nem as marcas fundas das palavras
nem o sangue das mãos no sulco
do cinzel podem dizer como eras o galope
dos cavalos, como as aves te voavam
junto a si, como as mãos que tinhas
abraçavam tanto mundo

16/03/2006

as amoras

As cigarras cantavam no Agosto
em que colhias amoras cor de vinho.
Tinham nelas o sabor da tarde,
as sérias amoras delicadas,
e davam-se devagar à luz do verão
há algum tempo posto no teu peito

14/03/2006

amigos

Viam-se melhor quando as manhãs
cristalizavam a luz do sol de Maio;
Via-se brincar aí, no espaço do sentir,
a diáfana matéria dos seus seres.
Aí se davam mãos, se tocavam as almas,
aí se riam ao provar dos frutos
que cada um, em dádiva, oferecia.

Os olhos de arco íris como a chuva
quando se dá ao sol, estremecida